Vou fazer um rápido comentário sobre os medos em relação à inteligência artificial.
Grosso modo, eles são de três tipos.
O primeiro é aquele que todos nós já vimos nos filmes de ficção científica: o medo de que as máquinas se tornem mais inteligentes que nós e acabem nos dominando. Parece distante, mas é algo que preocupa.
O segundo é o medo de nós mesmos. Como diz o urbanista francês Paul Virilio, toda tecnologia traz consigo seu próprio acidente. Tecnologias são usadas para a guerra, discriminação, dominação. Nenhum artefato é neutro e nós, humanos, não somos muito confiáveis. A inteligência artificial processa milhões de dados em segundos e toma decisões automaticamente, podendo, por delegação humana, gerar atrocidades gigantescas.
O terceiro temor é em relação ao meio ambiente. Os sistemas de inteligência artificial consomem muita energia e água e as atuais catástrofes climáticas exigem esforços para mudar essa matriz energética.
Os datacenters que processam os dados da internet consomem hoje 2% da energia total do planeta. As emissões de carbono, do Google ou da Microsoft duplicaram em quatro anos devido a produção de modelos de inteligência artificial. A agência internacional de energia estima que até 2030 o consumo de eletricidade vai aumentar em torno de 8%, com a expansão da inteligência artificial.
Há uma grande preocupação das empresas para reduzir esse consumo. O que mais preocupa é a solução que estão propondo.
Microsoft, Amazon e Google estão investindo em pequenos reatores nucleares para alimentar seus computadores. A Microsoft vai reativar a usina de Three Mile Island, aquela mesma que protagonizou o pior acidente nuclear dos Estados Unidos em 1979. E não podemos esquecer Chernobyl em 1986 e Fukushima em 2011 - tragédias que nos mostram o quanto a energia nuclear pode ser perigosa.
Aliado ao medo da inteligência artificial superar a nossa inteligência, do humanos usar a IA como instrumento de poder, dominação e aniquilação, temos agora, aliado ao medo do aquecimento global, o de um novo acidente nuclear. É como trocar um perigo por outro ainda maior. Querendo evitar as pegadas de carbono, corremos o risco de enfrentar acidentes nucleares.
Será que o remédio não está saindo pior que a doença?