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Chat GPT e Educação

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Chat GPT e Educação

André Lemos
Jan 25
5
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Chat GPT e educação

Texto base do meu comentário de hoje sobre Cultura Digital na Rádio Metrópole de Salvador.

Meu último texto aqui nesta newsletter foi sobre o sistema de inteligência artificial chat GPT. Fiz uma simulação de entrevista com o bot perguntando quais seriam os principais desafios da cultura digital hoje, se esse sistema poderia substituir um comentarista humano, como eu, etc. Vejam o texto linkado acima.

O debate sobre o chat GPT continua (e o Google já está lançando o dele). Vou comentar sobre a questão da educação.

Muitos têm se mostrado preocupados com a possibilidade da inteligência artificial substituir os professores a médio prazo, e de serem fontes fáceis e disponíveis para que alunos não mais escreveram. Eles perguntariam sobre um determinado assunto ao sistema e copiariam a resposta, como se fosse deles. A solução apresentada em muitos casos é a proibição do uso, tentando banir a conexão à internet e os dispositivos eletrônicos. Além de ser um atitude ineficaz (há sempre possibilidades técnicas de burlar - veja matéria no NYT sobre isso), perde-se uma excelente oportunidade para discutir tanto os processos educacionais, quanto os aspectos atuais da cultura digital com mais profundidade.

Vejamos.  Uma vez, em uma das minhas aulas na universidade, um aluno me perguntou se em algum momento  iríamos construir  um dispositivo que pudesse armazenar o cérebro de uma pessoa. Assim, quando ela morresse, teríamos acesso à sua inteligência e ao conhecimento produzido. Respondi que esse artefato já existe e que tem mais de 6 séculos (contando a partir da invenção de Gutenberg).  O nome dele é “livro”. Neste dispositivo informacional artificial temos o que há de mais inteligente em um cérebro, o pensamento elaborado em seu maior refinamento, e com a vantagem de não ter que lidar com as mazelas da convivência da pessoa real. Acessamos assim Beckett, Dostoievsky, Platão, Hegel, Heidegger, sem ter que lidar com as suas chatices do dia-a-dia.

Os livros formam ainda uma ecologia da inteligência, cruzando referências uns com os outros, produzindo nessa sinergia mais informação e conhecimento. Nossa inteligência “humana” depende desses (e de outros) dispositivos artificiais sendo, portanto, não apenas “humana”, mas híbrida e, por assim dizer, “artificial”. Temos, certamente, a nossa disposição morfogenética, neuronal, a nossa astúcia e experiência para lidar com problemas do quotidiano, as nossas idiossincrasias, as emoções e a capacidade de adaptação. É isso a inteligência. Ela é fruto não de algo essencial ou imanente, mas de uma sinergia com dispositivos e as mais diversas fontes. Retirem os as relações com objetos, com livros, a escola, a música, os filmes, a matemática, a arte e vejam como limitada seria a nossa inteligência. Precisamos acabar com esse mito de uma “inteligência humana natural” e de uma outra artificial. O problema aqui é que o humano só se define nesse hibridismo no qual natural e artificial não fazem sentido. A nosso inteligência vem de fora pra dentro. Não é uma condição essencial e inata. Tornamo-nos inteligentes justamente a partir das associações com outros seres e dispositivos informacionais.

O Chat GPT, para responder às demandas, retira suas informações de sistemas produzidos por humanos e/ou por outros sistemas de inteligência artificial (referências mais citadas, mais comentadas, metadados, status dos autores e fontes etc., pois teriam mais credibilidade ). Ora, fazemos o mesmo com os livros que escolhemos para ler e com os que usamos como fonte para os nossos próprios livros.  Uma ecologia de citação de dispositivo a dispositivo.  Certo, os livros foram escritos por humanos e o chat GPT é uma IA que colhe informações dos humanos de forma automatizada para produzir um texto sobre determinado assunto. Mas há mesmo muita diferença?

O que fazemos, nos processos educativos é sugerir livros acadêmicos, artigos, romances para ler e pedir que se produza juízo crítico, reflexão, debate. Devemos fazer o mesmo com os sistemas de IA. Ninguém pensa hoje em banir os livros por poderem ser copiados, ou pela possibilidade de uma biblioteca substituir um professor. Certamente pode haver a ideia de colocar uma máquina na frente dos alunos, retirando o professor da sala de aula, mas isso é absurdo, na minha opinião. Para tarefas repetitivas, pode acontecer, mas para sistemas que exigem redes de sociabilidade, com na educação, não me parece algo que possa ter sucesso. No entanto, o ponto é, você conhece algum professor no seu dia-a-dia que não use o dispositivo informacional livro? 

Devemos utilizar os sistemas de inteligência artificial para questionar o que é aprender, como dependemos desses suportes, como podemos entende-los hoje, com nossa inteligência funciona, como a chamada inteligência artificial erra, como ela enviesa respostas, omite coisas, como as bases de dados que lhe dão suporte são falhas… Assim como os livros erram, enviesam, partem de fontes equivocadas…

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